HOJE
Ferramenta de inclusão
Por Marcius Azevedo
Tricampeão do NBB CAIXA e terceiro maior reboteiro da história, Shilton usa o basquete para ajudar pessoas diagnosticadas com TEA (Transtorno do Espectro Autista)
Após o fim da temporada 2020/2021 do NBB CAIXA, Shilton se deparou com aquela situação que todo atleta tem de encarar em algum momento da carreira. O pivô tinha opção de renovar contrato com o Caxias do Sul por mais um ano ou decidir pela aposentadoria. A decisão, naquela altura, foi dar adeus às quadras de basquete. O passo seguinte era escolher o que realizar como pós-jogador.
“Eu tinha como opção seguir como técnico de base e assistente do adulto em uma equipe ou me tornar técnico de basquete de pessoas com deficiência”, contou Shilton. “Por inúmeros motivos, inclusive para ter mais tempo para a minha família, escolhi ser técnico de pessoas com deficiência, o que mudou minha vida e da minha família”, acrescentou o ex-jogador, que tem dois filhos que tentam seguir os passos do pai. Um deles, Mathias, de apenas 16 anos, tem se destacado no basquete espanhol, jogando pelo Betis.
Shilton tem trabalhando como técnico e monitor esportivo. São mais de 9.000 horas de experiência no trabalho com as mais diferentes deficiências e comorbidades. Ele fez cursos especializados, como introdução à transtornos do espectro autista, psicomotricidade, análise do comportamento aplicada (ABA), para ampliar o seu conhecimento sobre o assunto.
Atualmente são 18,6 milhões de pessoas de dois ou mais anos com deficiência no Brasil. O indicativo faz parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD): Pessoas com Deficiência 2022, divulgado em agosto do ano passado pelo Governo Federal. Nesta parcela da população, 2,7% brasileiros foram diagnosticados com TEA (Transtorno do Espectro Autista).
“Foi um novo aprendizado sair do esporte de alto rendimento para o esporte adaptado, uma mudança de ritmo, mas com uma responsabilidade maior e ainda mais gratificante. Passei 18 meses para fazer um aluno conseguir sustentar a bola sobre a cabeça e jogá-la na cesta. Essa vitória é magistral”, afirmou Shilton
A prática do basquete faz com que a pessoa com TEA ganhe qualidade de vida, principalmente por se tratar de um dos esportes mais complexos. “Melhora a qualidade do sono, aumenta a disposição, ajuda na disciplina e no aprendizado para lidar com a frustração, afinal ninguém acerta todas. Uma resiliência acentuada para poder executar os movimentos e ainda auxilia no tônus muscular e na coordenação motora.”
Shilton tem uma equipe para auxiliá-lo neste trabalho de inclusão. “O maior auxílio é entender e celebrar a individualidade, cada pessoa dentro do TEA é único, tem seu tempo, sua particularidade e me obriga a ser um técnico melhor, um ser humano mais sensível a cada sorriso, olhar, gargalhada ou uma explosão de alegria que aparece com um abraço ou um pedido para corrermos pela quadra somente pelo prazer de correr, sem um início e fim, mas, com a certeza, de que estamos usando o basquete como um meio poderoso de transformação e inclusão.”
Carreira no NBB CAIXA
Shilton disputou 13 edições do NBB CAIXA, com médias de 8,6 pontos e 7,6 rebotes. O ex-pivô foi campeão em três oportunidades: duas vezes com o Flamengo, nas temporadas de 2012/2013 e 2013/2014, e Bauru Basket, em 2016/2017.
Ele é ainda o recordista de rebotes em um único jogo de playoffs, ao pegar 21, sendo sete ofensivos, na vitória de Joinville sobre Limeira por 77 a 63, em 19 de maio de 2009. Além disso, Shilton é o terceiro maior reboteiro da história do NBB CAIXA, com 2,758, atrás apenas de Olivinha e Jefferson William.