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Ferramenta de inclusão

13-05-2024 | 11:54
Por Marcius Azevedo

Tricampeão do NBB CAIXA e terceiro maior reboteiro da história, Shilton usa o basquete para ajudar pessoas diagnosticadas com TEA (Transtorno do Espectro Autista)

Após o fim da temporada 2020/2021 do NBB CAIXA, Shilton se deparou com aquela situação que todo atleta tem de encarar em algum momento da carreira. O pivô tinha opção de renovar contrato com o Caxias do Sul por mais um ano ou decidir pela aposentadoria. A decisão, naquela altura, foi dar adeus às quadras de basquete. O passo seguinte era escolher o que realizar como pós-jogador.

“Eu tinha como opção seguir como técnico de base e assistente do adulto em uma equipe ou me tornar técnico de basquete de pessoas com deficiência”, contou Shilton. “Por inúmeros motivos, inclusive para ter mais tempo para a minha família, escolhi ser técnico de pessoas com deficiência, o que mudou minha vida e da minha família”, acrescentou o ex-jogador, que tem dois filhos que tentam seguir os passos do pai. Um deles, Mathias, de apenas 16 anos, tem se destacado no basquete espanhol, jogando pelo Betis.

Shilton usa o basquete como ferramenta de inclusão. Foto: Gabriela Ramos Oliveira (@Gabioliveirapro)

Shilton tem trabalhando como técnico e monitor esportivo. São mais de 9.000 horas de experiência no trabalho com as mais diferentes deficiências e comorbidades. Ele fez cursos especializados, como introdução à transtornos do espectro autista, psicomotricidade, análise do comportamento aplicada (ABA), para ampliar o seu conhecimento sobre o assunto.

Atualmente são 18,6 milhões de pessoas de dois ou mais anos com deficiência no Brasil. O indicativo faz parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD): Pessoas com Deficiência 2022, divulgado em agosto do ano passado pelo Governo Federal. Nesta parcela da população, 2,7% brasileiros foram diagnosticados com TEA (Transtorno do Espectro Autista).

“Foi um novo aprendizado sair do esporte de alto rendimento para o esporte adaptado, uma mudança de ritmo, mas com uma responsabilidade maior e ainda mais gratificante. Passei 18 meses para fazer um aluno conseguir sustentar a bola sobre a cabeça e jogá-la na cesta. Essa vitória é magistral”, afirmou Shilton

A prática do basquete faz com que a pessoa com TEA ganhe qualidade de vida, principalmente por se tratar de um dos esportes mais complexos. “Melhora a qualidade do sono, aumenta a disposição, ajuda na disciplina e no aprendizado para lidar com a frustração, afinal ninguém acerta todas. Uma resiliência acentuada para poder executar os movimentos e ainda auxilia no tônus muscular e na coordenação motora.”

Shilton tem uma equipe para auxiliá-lo neste trabalho de inclusão. “O maior auxílio é entender e celebrar a individualidade, cada pessoa dentro do TEA é único, tem seu tempo, sua particularidade e me obriga a ser um técnico melhor, um ser humano mais sensível a cada sorriso, olhar, gargalhada ou uma explosão de alegria que aparece com um abraço ou um pedido para corrermos pela quadra somente pelo prazer de correr, sem um início e fim, mas, com a certeza, de que estamos usando o basquete como um meio poderoso de transformação e inclusão.”

Shilton em ação pelo Caxias, em sua última temporada do NBB CAIXA. Foto: João Pires/LNB

Carreira no NBB CAIXA

Shilton disputou 13 edições do NBB CAIXA, com médias de 8,6 pontos e 7,6 rebotes. O ex-pivô foi campeão em três oportunidades: duas vezes com o Flamengo, nas temporadas de 2012/2013 e 2013/2014, e Bauru Basket, em 2016/2017.

Ele é ainda o recordista de rebotes em um único jogo de playoffs, ao pegar 21, sendo sete ofensivos, na vitória de Joinville sobre Limeira por 77 a 63, em 19 de maio de 2009. Além disso, Shilton é o terceiro maior reboteiro da história do NBB CAIXA, com 2,758, atrás apenas de Olivinha e Jefferson William.