HOJE
Superação para voar
Por Rodrigo Bussula
Acidente na infância, Ray Allen como inspiração e ligação com Brasília: conheça a história de superação de Paulo Lourenço, que participará doTorneio de Enterradas TNT
O Jogo das Estrelas está mais próximo do que nunca. O maior evento do basquete nacional acontecerá entre os dias 8 e 9 de fevereiro, em Franca (SP), e contará com diversos nomes importantes da elite do basquete brasileiro.
Dentre esses nomes, muitos acumulam grandes histórias no decorrer da vida, desde o primeiro contato com o esporte na escola até os primeiros passos em uma equipe profissional. Esse é o caso de Paulo Antônio da Costa Lourenço, de 25 anos, que atua como ala/armador no Basquete Cearense.
O jogador foi um dos selecionados para participar de umas das tradicionais competições do Jogo das Estrelas: o Torneio de Enterradas TNT.
Na atual edição, o ala/armador do Carcará terá concorrentes de peso pela frente, como o ala Gui Bento (Corinthians), que é o atual campeão do torneio, o ala Mogi (Botafogo), o armador George De Paula (Paulistano/Corpore), o ala Che Bob (Life Fitness/Minas), o ala Douglas Santos (Corinthians), o ala Maxwell Ribeiro (Joinville/AABJ) e o pivô Cipolini (Sesi Franca Basquete).
Em entrevista concedida ao site da LNB, Paulo comentou sobre sua infância, o início no basquete, sua passagem pelo Brasília, Cerrado Basquete e agora a expectativa de participar do Torneio de Habilidades no Jogo das Estrelas 2019.
De Brasília para Primavera do Leste
Primavera do Leste é uma cidade pequena do interior do estado do Mato Grosso e, segundo o último censo do IBGE (2018), detém cerca de 61.038 moradores. E foi nessa pequena cidadezinha que Paulo passou boa parte de sua infância.
Mas não foi em Primavera do Leste que o jovem ala/armador do Carcará nasceu. Brasiliense de origem, Paulo nasceu na capital federal do Brasil e viveu por lá até os sete anos de idade.
“Nasci em Brasília, mas com sete anos de idade eu sofri um acidente quando cai do ônibus indo para a escola e tive traumatismo craniano. Depois disso, meu pai achou que Brasília estava muito perigoso para criar os filhos e resolveu ir para o Mato Grosso”, comentou o jogador.
Na época, Paulo ia para a escola com a irmã de transporte público e após a porta do coletivo abrir antes da parada, um colega do jogador esbarrou nele e o derrubou do ônibus. Com a queda do ônibus em movimento, Paulo bateu a cabeça no meio fio de uma calçada e sofreu um traumatismo craniano.
As consequências do acidente foram graves e o jogador ficou por um mês em coma. Mesmo após sua recuperação, Paulo ainda sofreu durante um ano com a perda da memória de curto prazo.
“Eu não lembrava de nada, e foi nesse momento que meu pai quis recomeçar a vida e ir para o Mato Grosso. Lá, por conta da minha perda de memória, tive que começar a escola do zero, pois tinha esquecido de tudo que aprendi”, disse Paulo.
Início no basquete
Recuperado do acidente, Paulo se mudou para Primavera do Leste e foi matriculado na escola Parma Vida. A escola, após o horário letivo, oferecia atividades esportivas e culturais.
Mas foi só com 13 anos que o primeiro contato do jogador do Carcará com o esporte aconteceu. De início o interesse foi o handebol, que não durou muito e logo foi trocado pelo basquete, que era praticado junto de seu irmão, Pedro.
“Meu irmão mais novo e meu pai foram os grandes responsáveis para a minha migração para o basquete. Meu pai me fez ver o esporte como algo mais sério e meu irmão me incentiva e jogava basquete comigo. Me recordo dos puxões de orelha do meu pai para eu manter o foco nos treinos, por que se eu realmente quisesse ser um jogador teria que me esforçar mais que os outros. Ele sempre me dizia que isso iria me fazer chegar longe”, frisou.
Mas de imediato, seu Rafael, pai do jogador, não apoiou a ideia do jovem em seguir carreira no esporte da bola laranja.
Um dos argumentos principais era de que a cidade em que moravam não tinha tradição nenhuma com o basquete e, além disso, de que o filho deveria focar nos estudos. Mas após perceber que esse era o sonho do filho, o apoio de toda a família foi algo que não faltou mais na vida do atleta.
“Ele não via futuro no basquete e preferia que meu foco fosse os estudos. No Mato Grosso o basquete é muito fraco e ele não queria que meu tempo fosse desperdiçado com isso. Mas quando ele entendeu que esse era meu sonho as coisas foram diferentes. Lembro até que, para mostrar que apoiava, ele montou uma cesta improvisada no quintal de casa”, afirmou Paulo.
Primeira inspiração
No início, Paulo teve como inspiração o lendário jogador Ray Allen, bicampeão da NBA e maior cestinha de 3 pontos da liga norte-americana, com 2.973 pontos.
“Conheci o Ray Allen no videogame, quando jogava com meus amigos o NBA Live 08. Antes de escolher o jogador aparecia alguns vídeos de lances do atleta, e o Ray foi um cara que gostei muito e me tornei fã”, disse o jogador.
Já habituado com o esporte, Paulo começou a dar passos largos para se tornar um bom jogador de basquete. Pouco tempo depois seu trabalho foi reconhecido e o jogador começou a integrar o elenco da seleção de Primavera do Leste.
De volta para casa
Com o apoio dos pais, o ala/armador do Carcará se projetou como um dos grandes jogadores de Primavera do Leste, mas se viu sem perspectiva de um futuro profissional naquela pequena cidadezinha sem tradição alguma com o esporte da bola laranja.
A solução para o problema foi decidida: voltar para Brasília e atuar pela equipe da capital federal. Na ocasião, quando a mãe de Paulo, a dona Lilian Lourenço, ligou para o clube da capital federal para tentar uma peneira, e quem atendeu a ligação foi o experiente armador Nezinho.
“Quando fiz 17 anos tive que escolher entre parar ou continuar no basquete. Minha mãe me apoiou e tentou agendar uma peneira no Brasília. Na época, foi o Nezinho que atendeu e, após minha mãe explicar a situação, ele passou para os dirigentes do clube para agendar uma peneira”, afirmou o ala/armador.
Uma das ressalvas feita pelo clube era de que o ala/armador teria que arcar com os custos da viagem e moradia na cidade caso fosse aprovado.
Após fazer o teste, Paulo foi aceito no clube e começou a trilhar a passos largos para uma chance real de se tornar um atleta profissional. Na época, uma de suas inspirações do time principal do Brasília era o ala Alex, hoje no Bauru.
“O Alex é um cara que admiro muito e tento me espelhar. Na minha passagem pelo Brasília ele ainda estava no elenco e pude ver nos treinos e o no trabalho do dia a dia como ele é diferenciado”, disse Paulo.
Em sua passagem no Brasília, Paulo pode aprimorar muitas questões técnicas, e a Liga de Desenvolvimento de Basquete (LDB) foi essencial para isso.
Ao todo, entre 2013 e 2015, o jogador participou de 3 edições da Liga de Desenvolvimento (LDB) com as cores do Brasília e ficou com médias de 11,3 pontos, 4,3 rebotes em 84 jogos disputados.
“Disputar a LDB foi essencial para mim. Em Brasília eles tinham um time muito forte e, normalmente, sempre contratavam 12 adultos para a equipe, o que reduzia nosso tempo de treino com a equipe principal. Se não fosse a LDB, não teria o por que do clube manter a base. Acredito que essa competição foi essencial para meu desenvolvimento”, analisou.
Disputa da Liga Ouro e ida para o Carcará
Após a passagem pelo Brasília, Paulo alçou voos maiores e rumou para o Cerrado Basquete, também da capital federal.
Por lá, o ala/armador disputou a Liga Ouro 2018 e, mesmo com a desclassificação da equipe na primeira fase, o saldo do jogador do Carcará foi extremamente positivo – médias de 15,7 pontos (4º maior cestinha da edição) e 4,0 rebotes em 16 partidas.
“A Liga Ouro me credenciou para jogar no NBB. Na ocasião, fui o quarto maior cestinha da edição do campeonato e, com isso, algumas propostas surgiram”, disse o atleta.
Com as boas atuações vieram as propostas e uma delas foi a de sua atual equipe: o Basquete Cearense.
Na equipe de Fortaleza desde o início dessa temporada, Paulo alcançou uma boa média de tempo de quadra (20,1 minutos) e tem demonstrado uma grande habilidade em um fundamento muito plástico dentro do basquete: as enterradas.
“Sempre tive esse sentimento de querer chegar mais alto, ir para cima e tentar dar uma enterrada. Gosto de tentar essa jogada. Me recordo que ainda no meu início no Brasília, mesmo quando atuava contra o time principal, sempre tentei ir para cima e enterrar. Tomei muitos tocos, mas nunca desisti”, frisou.
Reconhecimento: convite para o Jogo das Estrelas
Com inspiração em Vince Carter e diversas enterradas no decorrer da temporada, Paulo, no auge dos seus 25 anos, foi convidada para participar do Torneio de Enterradas TNT e fará parte do Jogo das Estrelas 2019 pela primeira vez.
“Fiquei muito feliz ao saber que participaria do torneio e estaria nesse evento que é o maior do basquete nacional”, disse o jogador.
Paulo terá pela frente um fortíssimo adversário: Georginho, do Paulistano/Corpore. Para o ala/armador do Carcará, o jogador do CAP detém diversos bons atributos para a disputa, mas isso não tira sua confiança em uma vitória.
“O Georginho tem uma facilidade muito grande de controle do corpo no ar, então ele tem uma capacidade de dar enterradas de um grau muito difícil. Será uma grande disputa. Preparei algumas coisas também e nada melhor do que começar o torneio contra um cara como ele”, finalizou.
O Jogo das Estrelas 2019 é um evento organizado pela Liga Nacional de Basquete (LNB) em parceria com a NBA e conta com os patrocínios da CAIXA, Avianca, Nike, Penalty, Infraero, Eurofarma, McDonald’s, TNT Energy Drink e CAOA CHERY e os apoios da FIESP, Algar Telecom, Unimed Franca, Prefeitura de Franca, UNISAL, Açúcar Guarani e Ministério do Esporte e Governo Federal.