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ESG / LNB

Vozes Pretas

12-04-2024 | 07:58
Por Juvenal Dias

Com o lançamento do Tratado Antirracista pela Diversidade, vem a obrigação de saber o que pessoas pretas pensam e como recebem a ação promovida pela Liga Nacional de Basquete

A quinta-feira (11/04) foi histórica para a Liga Nacional de Basquete. A data marcou o lançamento do Tratado Antirracista pela Diversidade. Muito mais do que uma reunião para apresentação do importante documento, foi um momento para ouvir pessoas pretas e o escritório da LNB em São Paulo sediou uma rica troca de experiências, com falas potentes de pessoas com atitude para mudar o panorama que vivem diariamente.

A LNB entende a importância que jornalistas e influenciadores, que carregam consigo a cultura negra, têm para contribuir na evolução do diálogo com a sociedade que ama o basquete. A seguir trazemos as impressões que algumas delas tiveram do evento, de forma literal, sem interpelações ou interpretações do que foi dito. São as Vozes Pretas acolhidas e escutadas.

Joseph Henrique

Fotos: Yuri Reuters/ LNB

Atleta, promove clínicas de basquete, Mestre de Cerimônias, Influenciador

“Foi muito impactante. Recebi o convite na segunda-feira e desde então não sabia se era verdade. Ao chegar na Liga, vi com meus próprios olhos que, de fato, tinha uma movimentação muito importante, tratando de políticas públicas raciais. Um tema que é muito importante para uma Liga que é referência no País. A porcentagem de jogadores negros que atuam no NBB CAIXA é muito representativa. Sentar na mesa do Conselho, onde são tomadas as decisões dos clubes, e participar desse processo é muito importante, fiquei muito honrado com esse convite que a Liga fez.

O racismo é estrutural e evoluiu. Antigamente, nos jogos de futebol, se falava em pó de arroz, porque os negros se pintavam de branco para poder jogar uma partida. Hoje, a Liga Nacional de Basquete ter subido a bola com esse Tratado, está indo muito à frente, é de extrema importância, principalmente, por saber que os diretores estão investindo na causa, significa dizer que estão atentos, buscando uma evolução na sociedade, não têm a mentalidade antiga, estão se atualizando de forma consciente e com muita sabedoria, quem sabe para não ser uma referência no Brasil.”

 

Paola Alessandra

Joga basquete de rua há 17 anos, promove eventos para mulheres jogarem basquete

“Me senti muito lisonjeada, porque, vindo do extremo leste de São Paulo, eu nunca achei que para mim ser acessível um lugar como a Liga. Me sinto muito feliz, representada e, mais do que tudo, acolhida. Ver que as pessoas daqui querem acessar o nosso mundo, a nossa cultura também. O basquete é muito mais do que só esporte para mim, é algo social, eu trabalho com isso, com as meninas na periferia da Zona Leste. O esporte une as pessoas e tira as nossas crianças das drogas e caminhos ruins.

Mais do que justiça, vai trazer uma rede de apoio. As pessoas falam muito em vitimismo, só que é necessário ter uma forma de educar, não é só acolhimento para nós. Aqui é o início de uma nova era de acessibilidade para quem sofre preconceito, quanto é de repensar para quem pratica o ato.

A partir de hoje, já está revertendo o quadro. Nós estávamos ocupando uma mesa, em que majoritariamente são homens brancos que sentam. Em ter pessoas pretas ali, ficamos com o coração quente. Estamos chegando a lugares que as pessoas diziam que nós nunca iríamos chegar. É um trabalho de formiguinha, que dá mais visibilidade para nós, para que as pessoas entendam que racismo existe, sim, e que deve ser falado e tratado.”

 

DPC

Youtuber de conteúdos de basquete, com 1 milhão de seguidores

“Em termos de Liga, acho que é a primeira vez que é explanado sobre esse assunto. No Brasil, mais de 60% da população é preta e, quando olhamos para a produção de conteúdo, não vemos o nosso povo ali. Por que não estamos produzindo? Por que essa galera não trabalha com marcas? Não estávamos tendo visibilidade e preparo. Não imaginava que poderia estar conversando sobre isso na Liga e, comparando com o projeto do YouTube Black, dá para ver que vai sair muita coisa do Tratado. Isso foi apenas uma semente plantada para uma árvore enorme que vai crescer.

Na hora que eu vi aqui tudo estruturado, é muito mais do que eu imaginava. Me deu ideias também. Pensei ‘disso aqui pode sair muitas coisas’. A parte que se referiu à organização, ao acolhimento, conseguir levar isso não só a um time, não só em um jogo, mas também como um ‘código de conduta’ para a Liga é muito importante.

O que vimos aqui hoje foi um ambiente acolhedor, de união e é disso que a gente precisa. Falando com toda essa galera que são produtores de conteúdos, sei que a Liga vai ter esse mesmo processo com atletas, comissões. Mas ter visto isso de perto, me fez sentir acolhido, ver toda a apresentação, foi de arrepiar, foi sensacional.”

 

Fernando Hugo

Apresentador do NBBet, Influenciador, Técnico de categorias de base de basquete feminino

“Representa muita coisa mesmo. Primeiro que já estou extremamente feliz por tudo que foi dito hoje sobre as causas e é uma coisa que já estamos fazendo, a equipe da Liga já está fazendo: dando voz ao basquete de rua, dando legalidade para as pessoas pretas trabalharem com tranquilidade, mostrando suas qualidades, introduzindo a cultura do hip-hop, o basquete, a música. É uma coisa que a Liga já está acertando, então estamos de parabéns. Eu vejo que a Liga, dentro da sociedade, subiu mais um degrau em relação profissional, de igualdade e diversidade, estamos evoluindo, graças a Deus.

O Tratado dá uma segurança para os atletas, além de segurança caso aconteça uma discriminação racial ou de qualquer diversidade, dá respaldo para as pessoas que assistem, não vai ter mais ponto de interrogação. A partir do Tratados, os espectadores vão entender que a Liga não trata o tema como algo banal, que tem que ser mudado e a Liga, com a importância dela no âmbito nacional, mostra para outras ligas esportivas que tem um trabalho sendo feito relacionado a esse problema. É para todas as pessoas que gostam do basquete, isso é maravilhoso. Um árbitro precisa ser respeitado, o técnico precisa ser respeitado. E o respeito que falo não é só de ser humano para ser humano, estamos sendo bem específicos à questão racial, um técnico que está trabalhando, o ‘rodoman’ que também está trabalhando e não pode ser xingado, tem que ser respeitado como ser humano. O Tratado dá uma segurança muito grande dentro da esfera esportiva de que atos racistas não serão tolerados.

Foi sensacional ver a mesa do Conselho, cada um com seu dialeto, com diz o Mano Brown, falando da forma que gostam de se expressar, soltando opiniões. As pessoas estavam tão confortáveis de estar ali e só queriam falar, ter oportunidade de abrir a boca para falar qualquer coisa, além de ver os profissionais capacitados que estavam lá, super inteligentes, que trabalham em emissoras e seus próprios canais e todos foram respeitados.”

 

Patrícia Santos

Moradora do Jardim São Luís, de uma região periférica de São Paulo, jornalista do Alma Preta

“Estar em um espaço de acolhimento como foi essa reunião, foi também um espaço de acolhimento das pautas que acredito serem reais, o racismo, o combate ao racismo e pessoas pretas lidando com o assunto, criando metodologias para combater esse tipo de crime. Foi uma conversa muito bacana, senti que foi uma via de mão dupla. Da mesma maneira que a Liga tem propostas a trazer para combater o crime, tem o lado de escuta de quando uma pessoa é vítima do racismo, mas também apresenta soluções. Não vai resolver o problema do racismo dentro do basquete, mas é uma possibilidade de conversa sobre mudanças e um caminho para que outras modalidades acolherem essas pessoas. Não só educar, mas também coibir. Foi muito importante estar aqui hoje, sou muito grata pelo convite.

Foi uma sensação de muito conforto. A partir do momento em que acompanho o basquete, conheço a Liga Nacional de Basquete e fui convidada para estar em um espaço de discussão sobre um assunto que é extremamente pertinente a mim, como uma mulher preta, dentro de uma comunicação voltada às pessoas pretas, foi uma sensação de entender que meu trabalho está sendo bem feito e está sendo visto. Não só eu como jornalista, mas também do portal a que faço parte, que é o Alma Preta. Foi um dos melhores convites que já recebi.

É uma questão muito importante, ter pessoas pretas à frente de iniciativas e questões que são voltadas pessoas pretas. É uma discussão que precisa se perpetuar, ser ampliada, está em um caminho certo e de afirmação do trabalho. Pode não ser a atitude que vai dar certo, mas não tenho dúvida que é uma atitude certa.”

+ Veja galeria de fotos do evento de quinta-feira

Além do QR Code disponível em todos os ginásios que recebem os jogos dos torneios organizados pela Liga, o Tratado Antirracista pela Diversidade da LNB também está disponível no site da entidade.

O NBB CAIXA é uma competição organizada pela Liga Nacional de Basquete com patrocínio máster da Caixa Econômica Federal e Loterias Caixas, parceria do Comitê Brasileiro de Clubes (CBC) e patrocínios oficiais Sportsbet.io, Penalty, EMS e UMP e apoio IMG Arena, Genius Sports, EY e NBA.