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Jogo das Estrelas / NBB Caixa

Cidadãodo mundo

13-03-2018 | 10:32
Por Douglas Carraretto

O paraíso das Bahamas, salto em altura e Iraque: David Nesbitt estreia nova nacionalidade no Jogo das Estrelas e apresenta rica história de vida

David Nesbitt representará as Bahamas no Jogo das Estrelas, mas carrega na bagagem culturas de diversos lugares do planeta (Divulgação/LNB)

Não é só de brasileiros que é composto o Jogo das Estrelas do NBB CAIXA. Desde que o sistema NBB Brasil x NBB Mundo foi aplicado, em 2011, sete nacionalidades foram representadas ao longo dos anos (Estados Unidos, Argentina, Paraguai, Espanha, Gana, República Dominicana e Uruguai). Agora, em 2018, mais três bandeiras aparecerão pela primeira vez na maior festa do basquete brasileiro: Peru, Venezuela e Bahamas.

Junto dos três novos países, o elenco do NBB Mundo será composto por mais sete norte-americanos e dois dominicanos. Com cinco nacionalidades ao todo, a edição 2018 do Jogo das Estrelas entrou para a história como a mais “miscigenada” de todos os tempos do evento.

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Mas, na verdade, essa miscigenação é simbolizada principalmente por uma figura em especial: David Nesbitt, das Bahamas, que defenderá o NBB Mundo no Jogo das Estrelas. O país, localizado na América Central, nunca havia sido representado no NBB CAIXA e quiçá no basquete brasileiro. Por isso, fomos atrás de entender essa história e conhecer um pouco mais sobre esse país ainda pouco conhecido na esfera esportiva do mundo.

Em entrevista exclusiva ao site da LNB, Nesbitt contou um pouco mais sobre as Bahamas e aproveitou para detalhar sua rica trajetória no basquete, que conta com passagens por Estados Unidos, Cazaquistão, Letônia, Iraque, Uruguai e Argentina antes de pousar no Brasil – tudo isso com apenas 27 anos.

Bahamas: o paraíso do atletismo (e do basquete)

Quando falamos em Bahamas, o que lhe vem à cabeça? Lindas praias caribenhas? Atraente paraíso fiscal? Isso mesmo. O país, que tem pouco mais de 300 mil habitantes, tem sua economia baseada no turismo – que representa mais de 60% do PIB (Produto Interno Bruto) – e no sistema bancário.

Mas, o que poucos imaginam é que, em meio às suas exuberantes praias, o paraíso das Bahamas também tem esporte. O país possui ao todo 14 medalhas olímpicas, sendo 12 delas vindas do atletismo (cinco de ouro) e duas da vela.

Atletismo das Bahamas é responsável por 12 das 14 medalhas olímpicas do país; no Rio 2016, foi um ouro e um bronze (foto) (AP/Divulgação)

“O esporte mais popular em Bahamas é o atletismo. Nossa cultura esportiva lá é baseada em vencer. Todos gostam de vencer, e o atletismo é a modalidade de maior sucesso no país, por isso é a mais popular. Como país, temos o maior número de Olimpíadas e Campeonatos Mundiais por pessoa do mundo e isso potencializou o interesse da população no atletismo”, disse Nesbitt.

E o basquete? Vai muito bem. A modalidade da bola laranja está em evolução nas Bahamas e vem se tornando cada vez mais popular por lá. Na década de 90, o país teve três atletas na NBA: Dexter Cambrigde (Dallas Mavericks 92-93), Ian Lockhart (Phoenix Suns 1990) e Rick Fox (Boston Celtics 91-97 e Los Angeles Lakers 97-04), este que é nascido no Canadá, mas possui cidadania bahamense.

Número 1 do Draft de 1978, o bahamense Mychal Thompson é pai do astro Klay Thompson (NBA/Getty Images)

Mas, na verdade, o mais notável entre os bahamenses na NBA foi Mychal Thompson, que é pai do astro Klay Thompson, do Golden State Warriors. Ele foi número 1 do Draft de 1978 e atuou na liga norte-americana por 13 anos, com passagens por Portland Trailblazers (1978-1986), San Antonio Spurs (1986-1987) e Los Angeles Lakers (1987-1991).

Hoje, a bola da vez é o ala/armador Buddy Hield, de 24 anos, do Sacramento Kings, eleito entre os cinco principais calouros da NBA na temporada passada. Outro bahamense que está explodindo no basquete é o garoto DeAndre Ayton, de 19 anos, da Universidade do Arizona, que está cotado para ser uma das três primeiras escolhas no próximo Draft da NBA.

“Bahamas é muito influenciada pela NBA. Muitas crianças, como eu, cresceram assistindo a NBA e assim foram estimuladas a jogar basquete. Muitos jovens também começaram a receber oportunidades de ir para universidades nos Estados Unidos através do basquete, então os adultos começaram a estimular as crianças a jogar basquete para ganhar essas oportunidades. Esses foram os fatores principais para o crescimento do basquete em Bahamas”, contou o pivô do Paulistano.

Um dos grandes reflexos do crescimento do basquete nas Bahamas é a sua Seleção. Só nos últimos sete anos, três medalhas foram conquistadas no FIBA Centrobasket, torneio da América Central – vice-campeão em 2011 e 2015, e campeão em 2014. Antes disso, o máximo havia sido algumas idas à fase final da competição, mas sem pódio.

Nesbitt é um dos grandes destaques da seleção de basquete das Bahamas (FIBA/Divulgação)

David Nesbitt atualmente é um dos grandes nomes da seleção das Bahamas. Na última edição do Centrobasket, em 2016, o ala/pivô de 2,00m foi o segundo cestinha e reboteiro da equipe no torneio, com média de 12,4 pontos e 7,0 rebotes, além de um aproveitamento de 35,7% nas bolas de 3 pontos. Seus números ficaram atrás somente de DeAndre Ayton, que com apenas 17 anos registrou 16,0 pontos e 11,0 rebotes em média.

“Sempre me sinto muito orgulhoso em representar meu povo. Quando eu era criança sempre sonhei em jogar uma Olimpíada, mas isso foi quando eu fazia salto em altura. Bahamas é um país pequeno, tem pouco mais de 300 mil habitantes, mas todos são muito orgulhosos dos poucos e bons atletas que saíram de lá”, declarou Nesbitt.

Nesbitt: do salto em altura ao basquete

Como contou na declaração acima, David Nesbitt também foi um adepto do atletismo em sua juventude – no salto em altura. Mesmo com o basquete enraizado em sua vida desde os quatro anos, ele também praticou o salto em altura desde criança, com direito até a quebra de recorde.

“Pratiquei salto em altura por vários anos. Meu melhor ano foi em 2007, quando quebrei o recorde do salto em altura na categoria Sub-15 e também representei Bahamas nos Jogos de Caritfa, em Ilhas Turcas e Caicos. É uma competição com garotos de outros países do Caribe. Fiquei na quinta colocação e saltei 1,90m, mas não consegui pular acima de 1,95m”, revelou Nesbitt.

Nesbitt (34, à esq.) foi para os Estados Unidos aos 17 anos (News Journal/Divulgação)

Mas o basquete  era, de fato, a atividade principal do bahamense, que resolveu tomar a decisão de focar apenas na bola laranja aos 16 anos. Logo em seguida, partiu para os Estados Unidos para dar início à sua carreira universitária.

Primeiro, finalizou o ensino médio na Grayson College, no Texas, e depois partiu para a St. Thomas University, na Flórida, onde foi estudante de Engenharia e Matemática e jogou por três anos a NAIA – espécie de liga universitária secundária nos EUA.

“Quando saí de Bahamas tive dificuldades para me acostumar a viver longe de casa e da minha família. Mas essa ida aos Estados Unidos não foi tão difícil como poderia ser. Passei o que todos passam nessa transição e consegui superar os problemas”, comentou.

Um cidadão do mundo

Depois que terminou a faculdade nos Estados Unidos, o bahamense da pacata Freeport fez as malas e partiu para a Ásia Central, onde atuou pelo Kaspiy Aktau, do Cazaquistão, entre 2012 e 2014. Por lá, o clima gelado – o país é fronteira da Rússia – foi o principal obstáculo para Nesbitt.

“No Cazaquistão foi uma boa experiência. Sinceramente eu não gostava de toda aquela neve, mas foi ótimo para um primeiro time para mim”, contou o jogador, que teve médias de 9.8 pontos e 7,0 rebotes no campeonato local. Já na Liga Báltico, foram 8,8 pontos e 7,3 rebotes em média.

Em seguida, David Nesbitt teve uma rápida passagem pela Letônia, mas acabou tomando um rumo que poucos aceitariam: o Iraque. Por lá, defendeu as cores do Al-Mina, que era localizado em Baras – cidade próxima ao Kuwait e ao Irã – entre os anos de 2014 e 2016.

É certo que a famosa Guerra do Iraque acabou “oficialmente” no ano de 2011, mas diversos acontecimentos, como ataques de bomba e ações envolvendo o Estado Islâmico, ainda assombram o país, inclusive nos dias de hoje. No entanto, a estadia de Nesbitt no país foi 100% pacífica durante os dois anos.

“Por conta de todos acontecimentos, guerras e notícias ruins, fiquei com um pouco de medo de ir para o Iraque. Mas me surpreendi com o que passei lá, pois as pessoas foram muito legais comigo e eu nunca tive nenhum tipo de problema com ninguém”, disse Nesbitt.

Com a camisa do Al-Mina, o bahamense registrou médias de 17,5 pontos e 10,1 rebotes por partida e ajudou seu time a chegar à final da temporada 2015/2016.

“Foi uma experiência muito interessante. É um estilo de vida que eu não estava acostumado e que não é muito comum para mim, então aprendi muito. O basquete no Iraque está crescendo muito em popularidade e está cada vez melhor. Mas, assim como na maioria dos países, o esporte número um é o futebol”, completou.

Após dois anos no Iraque, David Nesbitt atravessou o oceano novamente e pousou na América do Sul. No Uruguai, vestiu a camisa do Goes Montevideo, um novo clube na liga uruguaia. Suas médias foram expressivas: 15,1 pontos, 6,6 rebotes e 1,7 roubos de bola.

As boas atuações em solo uruguaio lhe renderam um lugar na Liga Argentina, onde defendeu o Olímpico de La Banda. Por lá, registrou 9,7 pontos e 4,9 rebotes em 32 partidas pela equipe.

Welcome do Brazil

A temporada 2017/2018 levou David Nesbitt a um novo destino: o Brasil. Aos 27 anos, o bahamense foi contratado pelo Paulistano/Corpore e desembarcou no sexto país diferente em sua carreira no basquetebol, logo em uma cidade mais de 12 milhões de habitantes, enquanto o país inteiro das Bahamas tem 300 mil. Apesar da larga diferença, viver na maior metrópole da América Latina não vem sendo um problema para o camisa 25 do CAP.

Nesbitt é um dos grandes destaques da histórica campanha do  Paulistano no NBB CAIXA (Wilian Oliveira/Divulgação)

“Não é tão difícil viver aqui em São Paulo. Tenho uma casa com minha noiva em Orlando, então estou acostumado a cidades com populações grandes”, disse Nesbitt. “Nas horas livres gosto de descansar, porque sempre treinamos muito forte. Amo ouvir música, ouço praticamente o dia inteiro, principalmente hip-hop e R&B”, contou.

O bahamense foi apresentado em meio às semifinais do Campeonato Paulista 2017 contra o Mogi. E logo de cara, ajudou sua nova equipe a avançar à decisão contra o Sesi Franca e a conquistar o título inédito do torneio Estadual.

Já no NBB CAIXA, a campanha do Paulistano também é de encher os olhos. Com 21 vitórias seguidas, a equipe alvirrubra detém a maior sequência positiva da temporada e a terceira de toda a história da competição. O time é líder isolado do campeonato e vem ganhando cada vez mais moral.

“O NBB é uma das melhores ligas que já joguei na carreira, sem dúvidas. Não posso falar pelo resto dos jogadores, mas eu realmente tenho ótimos companheiros de time. Eles têm um bom espírito, são talentosos e muito competitivos. Me sinto muito bem no Paulistano. Temos uma ótima química dentro do sistema que o Gustavo (De Conti) impôs”, disse Nesbitt, que tem 8,8 pontos e 6,4 rebotes em média na competição.

Jogo das Estrelas 2018

Com papel de tamanho destaque na campanha histórica do Paulistano, David Nesbitt teve seu trabalho reconhecido e foi eleito para defender o NBB Mundo no Jogo das Estrelas 2018, que será realizado no dia 18 de março (domingo), no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo (SP). A convocação, sem dúvidas, foi motivo de muito orgulho para o gigante das Bahamas.

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“Estou muito honrado por ter sido selecionado para o Jogo das Estrelas. É sempre bom ser reconhecido quando se trabalha tão duro como venho trabalhando. Ao longo da minha carreira sempre recebi elogios, mas nunca participei de um Jogo das Estrelas, então estou muito empolgado com a oportunidade”, comemorou Nesbitt.


De quebra, o ala/pivô bahamense foi selecionado para disputar o Torneio de Enterradas do Jogo das Estrelas 2018 ao lado de Corderro Bennett (Pinheiros), MJ Rhett (Flamengo), Greg Brown (Campo Mourão), Gabriel Jaú (Bauru), Cipolini (Sesi Franca), Gui Bento (Pinheiros) e Wesley (Minas).

Com novo sistema, o Torneio será realizado em formato de mata-mata, e os oito jogadores se enfrentarão em eliminatórias simples de 1×1 (quartas de final, semifinal e final). Em todas as rodadas, os participantes darão uma enterrada e quem levar a melhor nota dos jurados avançará no torneio. O adversário de Nesbitt será o dominicano MJ Rhett, do Flamengo.

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“Não sei muito sobre os outros competidores, mas tenho certeza que são muito bons. Já participei de alguns torneios de enterradas na minha vida, no High School e no College, então sei mais ou menos o que esperar. Vou guardar em segredo o que farei (risos)”, declarou Nesbitt, pode surpreender com suas habilidades adquiridas no salto em altura.

O Jogo das Estrelas 2018 é um evento organizado pela Liga Nacional de Basquete (LNB) e conta com o patrocínio master da CAIXA, os patrocínios da SKY, INFRAERO, Avianca, Nike, Penalty, Cartões CAIXA Elo e Wewi e os apoios do Açúcar Guarani, NBA e Ministério do Esporte.