Está só começando…

Normalmente as equipes do mundo esportivo, seja lá de qualquer modalidade, fazem suas pré-temporadas com jogos amistosos e muito treino. Mas o time de basquete do Flamengo teve que fazer diferente neste ano e, logo de cara, teve dois grandes desafios pela frente. O primeiro deles foi a disputa da Copa Intercontinental. Depois foi a vez de jogar contra equipes da NBA.

“Tudo o que aconteceu fez nosso time crescer e evoluir bastante. A sequência de jogos que tivemos já nesse começo de temporada pode nos ajudar muito. Os dois jogos contra o Maccabi e três jogos na NBA são a pré-temporada dos sonhos para qualquer equipe no mundo. Foram jogos que qualquer técnico quer vivenciar para sua equipe e isso faz a gente crescer ainda mais como a equipe”, analisou o técnico rubro-negro José Neto.

Campeão da Liga das Américas no primeiro semestre de 2014, o time carioca se qualificou para disputar o título mundial interclubes frente ao Maccabi Tel-Aviv (ISR), dono do título da última Euroliga. E o resultado foi o melhor possível. Diante de sua torcida, o esquadrão rubro-negro levou a melhor sobre os europeus – perdeu a primeira partida por três pontos, mas venceu o segundo duelo por 13 pontos – e garantiu o histórico troféu para sua galeria.

Conquista do histórico título mundial foi o primeiro passo do Flamengo na temporada 14/15 (Gaspar Nóbrega/FIBA Américas)

Para melhorar e animar ainda mais seu início de temporada, o Flamengo fez história novamente. Convidado pela NBA para três partidas em solo norte-americano, os atuais bicampeões do NBB se tornaram a primeira equipe da América Latina a disputar a pré-temporada da liga norte-americana de basquete. Na “Terra do Tio Sam”, os brasileiros atuaram frente a Phoenix Suns, Orlando Magic e Memphis Grizzlies.

“Tivemos cinco jogos que podem ser facilmente comparados a uma temporada inteira. Foi um grande desafio para nós, não só na parte física com também na parte mental. Estamos falando de jogar contra o campeão europeu e três times da melhor liga de basquete do mundo, então sentimos bastante nesses dois aspectos. Mas isso foi uma pré-temporada de luxo, com sonhos realizados, e temos que tirar coisas boas para crescer”, disse o armador Gegê.

Diante dos Suns, o Flamengo teve sua melhor atuação durante a passagem pela NBA (Divulgação)

Em sua passagem pela NBA, o Flamengo fez bons jogos e provou ser uma equipe poderosa, mesmo sem conquistar nenhuma vitória. Na primeira partida, diante dos Suns, no US Airways Center, o time carioca jogou de igual para igual e chegou até a liderar o placar em alguns momentos. No final das contas acabou derrotado, mas mostrou que não seria presa fácil para as equipes norte-americanas.

No duelo seguinte, no Amway Center, frente ao Magic, os flamenguistas viveram bons momentos e equilibraram boa parte do confronto. A despedida do melhor basquete do mundo aconteceu no FedEx Forum, no Estado do Tennessee, contra o poderoso Grizzlies.

“Os jogos na NBA não tirariam nada da gente. Então, por mais que a gente saiba o quanto essa experiência vai acrescentar para nós, é uma forma diferente de como você entra para o jogo. A experiência foi única e incrível, lógico que ninguém gosta de perder mas por ser a primeira vez de um time latino-americano lá (NBA) foi super válido. A gente viu que dá para jogar contra os caras, mas vimos também que o lado físico pesou bastante”, explicou o ala Marcelinho Machado.

“Foi maravilhoso. Ter oportunidade de ir para os Estados Unidos e jogar contra times da NBA é algo fantástico, não só para nós jogadores mas para todo o nosso staff também. Foi muito bom vermos de perto como é o jogo na NBA, onde todos os jogadores têm uma percepção muito grande de individualidade. Então foi uma experiência que só tem a acrescentar para nós e espero poder voltar lá mais vezes”, concordou o ala/armador Vitor Benite.

Campeão de tudo entre 2013 e 2014, ao conquistar o nono título seguido do Campeonato Carioca, o bi do NBB e o inédito troféu da Liga das Américas, o clube da Gávea naturalmente seria apontado como o “time a ser batido” na temporada 2014/2015. Porém sua pré-temporada agitada e histórica reforçou ainda mais esse status. E se engana quem pensa que o time se acomodará ou se abalará com a condição de favorito.

“Agora vamos voltar à nossa realidade, onde conseguimos alcançar os êxitos na última temporada. É uma motivação para as outras equipes jogar contra o Flamengo e sabemos disso. Todos que vierem jogar contra nós irão entrar em quadra com o pensamento de jogar contra uma equipe que acabou de sair de algumas situações importantes e a gente sabe que isso é um motivador extra. Temos que estar muito preparados todas as vezes que fomos entrar em quadra”, disse o comandante José Neto.

“Temos que estar muito concentrados nos desafios que a gente tem pela frente. Nosso foco é ganhar tudo novamente (Carioca, NBB e Liga das Américas) e temos que ter consciência que nosso time pode vencer esses campeonatos. Foi um início de temporada desgastante, normalmente a gente começa pelo Campeonato Carioca e vamos ganhando ritmo aos poucos. Nesse ano não. Tivemos que estar bem logo de cara e agora temos que tirar coisas boas desse início de temporada diferente”, afirmou o capitão Marcelinho.

Base mantida: renomado argentino Walter Herrmann foi a única contratação do Flamengo para a temporada (Gaspar Nóbrega/Inovafoto)

O primeiro compromisso do Flamengo será no Estadual, com a decisão diante do Macaé Basquete em uma melhor de três partidas, com início na próxima segunda-feira (27/10). Na sequência, no próximo dia 31/10, abrirá a sétima edição do NBB com a reedição da última decisão, diante do Paulistano/Unimed. Por fim, depois da virada de ano, será a vez de começar uma nova trajetória na Liga das Américas.

“A gente sabia que os dois jogos do Mundial eram muito importantes para nós. Foi um título que ficou marcado e sabíamos disso, por isso estávamos muito focados. Na NBA, a gente sabia que era outro tipo de experiência. Jogamos para ganhar sim, mas a gente sabia da diferença que existia. Não é porque fomos campeões mundiais e jogamos contra times da NBA que as coisas vão ficar mais fáceis. Pelo contrário, acho que as coisas vão ficar mais difíceis, com todos querendo ganhar da gente. Mas estamos preparados para esse desafio”, completou Marcelinho.

Mas como manter o foco depois de uma temporada brilhante e um início de novo ciclo com feitos históricos? Para o elenco do Flamengo, a receita é simples: seguir fazendo história. Porém, para isso, o time carioca terá que saber lidar muito bem com o status de favorito que adquiriu com os feitos atingidos nos últimos anos.

“Temos que buscar motivação todos os dias. O grupo tem que sempre estar sempre ligado e nossa motivação é continuar fazendo história. Fomos a segunda equipe brasileira a conquistar o título mundial e queremos mais. Temos a chance de levar o Flamengo ao quarto título do NBB, sendo o terceiro seguido, e ao bicampeonato da Liga das Américas, então não podemos nem devemos nos acomodar. Temos que estar atentos a todos os jogos, principalmente naqueles em que apontarem o Flamengo como amplo favorito”, explicou Vitor Benite.

“É muito diferente jogar sem pressão nenhuma pela vitória do que jogar pressionado por ser favorito. Todos vão entrar querendo dar o melhor contra o Flamengo e nossa equipe vai ter que estar muito concentrada em todos os jogos. Temos que trabalhar muito bem nosso lado mental para não nos acomodarmos. Queremos buscar o tri do NBB e o bi da Liga das Américas”, completou o jovem jogador, de 24 anos.

Flamengo abrirá sua participação no NBB7 com a reedição da final da última temporada, frente ao Paulistano (Luiz Pires/LNB)

Outro fator importante para um bom desempenho na temporada será a questão física. Por conta da pré-temporada cheia de desafios importantes, o time retornou de férias e teve que adquirir ritmo de jogo mais rápido do que acontece normalmente. Além disso, boa parte do elenco já vinha de competições internacionais com suas respectivas seleções, antes mesmo de a equipe iniciar seus trabalhos.

Marcelinho Machado e Marquinhos disputaram a Copa do Mundo 2014 com o selecionado brasileiro, mesma situação vivida pelos argentinos Laprovittola e Herrmann que representaram a seleção de seu país na Espanha. Por sua vez, Gegê, Benite, Olivinha e Felício disputaram o Sul-Americano pelo esquadrão verde-amarelo.

“Antes mesmo de a temporada começar para o Flamengo, oito jogadores do nosso elenco já estavam em atividade por suas seleções nacionais e, seja na Copa do Mundo ou nos desafios com o Flamengo, já jogamos em um nível muito alto. Estamos em um ritmo muito forte, mas vamos ter um tempo para nos prepararmos para os desafios que virão e temos que estar bem fisicamente”, disse Marcelinho.

Para driblar os problemas físicos, o Flamengo conta com um importante trunfo: a força de seu elenco. Com diversas opções para a rotação, o técnico José Neto poderá promover um maior rodízio entre seus atletas para evitar um desgaste precoce de suas principais peças e chegar na reta final das competições com seu plantel em boas condições.

“Precisamos trabalhar muito bem nossa parte física. Sabemos que em algums momentos da temporada você atinge seu auge físico e em outros você acaba dando uma caída. Então temos que tentar buscar esse auge na reta final e para isso temos a vantagem de ter e um grupo grande e de qualidade. Desta maneira podemos ter um bom revezamento nos jogos e até nos treinos. Com o trabalho brilhante que nossa comissão vem fazendo tenho certeza de que chegaremos na parte final da temporada bem fisicamente”, concluiu Vitor Benite.

Força do elenco é uma das apostas para o Flamengo seguir fazendo história no basquete brasileiro (Gaspar Nóbrega/FIBA Américas)