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"É algo queme machuca"

11-06-2020 | 07:05
Por Rodrigo Bussula

Convidado na Live #BasqueteEmCasa, jogador falou sobre protestos nos EUA e a importância de se posicionar

Você, que acompanha o NBB, já deve conhecer ou pelo menos ter ouvido falar do Jamaal, armador e estrela do Botafogo. Ele foi o nosso último convidado na Live #BasqueteEmCasa, que aconteceu nesta última quarta-feira (10/06) no Instagram o NBB.

Com passagens por Macaé, São José e, agora, Botafogo, o norte-americano se tornou um dos principais nomes do basquete nacional, especialmente pelo poder de decisão – um exemplo disso foi a cesta da vitória realizada contra o Rio Claro, na última temporada da competição.

No bate papo (você pode conferir completo neste link), o jogador abordou diversos assuntos. Entre eles, os protestos que ocorrem ao redor do mundo, com seu epicentro nos Estados Unidos, contra o racismo.

Em Las Vegas com a família, o armador do alvinegro carioca tem visto de perto todas as movimentações em torno da luta contra o racismo que se alastrou pelo país. Para ele, o assunto é extremamente delicado porque uma grande parte não entende e não sofre com problemas abordados.

“Mano, é um negócio bem complicado. Não vai virar rápido porque existem os lados que não vivem isso. Todo dia quando eu acordo e saio de minha casa, é mais um dia que tenho que viver com medo de se a polícia me pegar tem chance de me matar”, disse o jogador.

Nos EUA, Jamaal acompanha de perto onda de protestos (Wilian Oliveira/Foto Atleta)

Com a onda de protestos, o assunto veio mais do que à tona não só nos EUA como no mundo. Na última quarta-feira (03/04), por exemplo, o NBB promoveu um debate com personagens do cenário brasileiro negros para falar sobre o assunto, numa tentativa de ampliar o debate acerca destas questões tão essenciais.

+ NBB promove debate histórico sobre racismo em live no Facebook

Segundo Jamaal, ficar falando e pensando só nisso também pode deixar as pessoas pretas malucas, mas também resaltou que isso se faz necessário pela situação que o mundo vive.

“É difícil, e se só ficarmos pensando nisso ficaremos loucos. Tem muitas pessoas que não entendem, que não enxergam cor, mas também tem pessoas que vão contra você só por você ser preto. Então, meu pensamento, que sempre falo, é, tipo assim: esse dia não foi eu, mas não é muito complicado pensar que meu dia pode ser amanhã ou na próxima semana. Não sei quando pode acontecer comigo”, afirmou.

“Não sei quando pode acontecer comigo”, disse o jogador (João Pires/LNB)

Com a onda de protestos, também vieram pessoas se manifestando contra, diminuindo a luta. Para Jamaal, essas pessoas deveriam tentar entender melhor a batalha de quem sofre com isso, literalmente, na pele.

“Os caras têm que ver que a vida dos negros é difícil. Todos os dias eu acordo preto, não tem como mudar isso, e não quero mudar. Consegui crescer e viver desse jeito, mas é um negócio que para mim o outro lado têm que parar e pensar pelo nosso lado. Se você não vive, não passa o que passamos, tem que parar, pensar e olhar para o nosso lado para entender. É a única coisa que eu quero, assim as coisas vão mudar”, afirmou Jamaal, que completou.

“O racismo é algo que me machuca. Acho que os caras têm que crescer, porque se não nada vai mudar. Se não, sempre vai ficar os pretos vivendo o negócio e falando que está sofrendo, que está difícil e o outro lado falando que não sente. Nessa nada muda”, finalizou.

Mais que jogadores, cidadãos

Assim como foi visto no Brasil com algumas figuras do esporte se manifestando não só hoje, mas também em outros momentos, nos EUA isso também acontece. Lembrando de alguns nomes de forma rápida, podemos falar de Lebron James, Russell Westbrook, Giannis Antetokounmpo, Karl-Anthony Towns, DeMar DeRozan e tantos outros que se manifestam e defendem causas extra-quadra.

Russel Westbrook e DeMar DeRozan em protesto nos EUA (Reprodução/Instagram)

No meio dos protestos #BlackLivesMatter isso não foi diferente e vimos diversas figuras de peso se colocando na linha de frente e utilizando de sua voz para conscientizar o próximo. Para Jamaal, fazer parte dos protestos é algo necessário.

“Esse negócio de protesto acho maneiro, mano. É um negócio que mostra que estamos juntos, unidos. Todo mundo precisa ficar unido, porque se não, se for um ou duzentos, nada vai mudar. Acho que todos tem que fazer parte dos protestos, ajudando uns aos outros. Tem que continuar”, disse.

O jogador ainda reiterou o peso que é uma voz influente no esporte se levantar e lutar por algo, sobrando até para uma comparação entre Michael Jordan e Lebron James.

“Sobre jogadores e atletas, eles estão num nível que muitos vão olhar, ver e escutar o que eles têm pra falar. Tenho total respeito por eles, especialmente com o Lebron, que admiro muito. Ele sempre fala e é uma voz para a comunidade negra. Meu ídolo quando eu estava crescendo foi o Michael Jordan, que para mim foi melhor jogador, mas nunca que ele iria entrar no meio desse negócio. Mas acho o jeito que o Lebron se posiciona bem maneiro.  O respeito muito”, finalizou.