HOJE
Ídolo eMédico
Por Yara Guerra
Nas redes sociais, ex-jogador se dispôs a atender os seguidores em mensagens privadas: "passei a responder as mais diversas dúvidas"
Segundo maior cestinha da história da Seleção Brasileira de basquete, Marcel de Souza continua a marcar pontos, mesmo longe das quadras. O ex-jogador, que conquistou medalha de ouro no Pan-Americano de 1987 e bronze no Mundial de 1978, é também médico e tem feito a sua parte para ajudar a combater o novo coronavírus.
Formado pela Faculdade de Medicina de Jundiaí, Marcel tem se dedicado, todos os dias desta quarentena, a atender a população de baixa e média renda na cidade no interior paulista. Por ter 63 anos e pertencer ao grupo de risco do COVID-19, o ex-atleta não pode trabalhar em hospitais e consultar quem contraiu o vírus. Por isso seus atendimentos são realizados em clínicas populares e se restringem à ultrassonografia, área em que se especializou. Apesar disso, Marcel encontrou uma forma de alcançar quem precisa de auxílio neste momento inédito que vivemos: orientando pessoas através das redes sociais.
Em uma publicação no seu perfil do Instagram, Marcel explicou que é médico e se dispôs a atender, de forma privada, quem tem dúvidas sobre o novo COVID-19. Além de permitir que esses questionamentos sejam sanados sem a necessidade de ir ao pronto socorro, a iniciativa evita a saturação do sistema de sa aúde.
Segundo o ex-jogador, o que lhe motivou a oferecer a ajuda foi a sua vocação.
“Minha profissão é, para mim, uma missão. Então você não pode fugir dos problemas médicos quando eles acontecem ao nível de uma pandemia. Embora tendo 63 anos, sendo grupo de risco e não tendo nenhuma expertise em tratar do paciente em estado grave de COVID-19, eu procurava uma maneira de ajudar. E aí eu vi uma obstetra, amiga minha, que publicou na rede social um anúncio dizendo que era médica e se dispunha a ajudar quem perguntasse algo sobre o coronavírus. Fiquei com aquela ideia na cabeça, copiei, colei e passei também a responder dúvidas das mais diversas sobre a pandemia”, disse.
Ele também contou que, no início, respondeu muitas perguntas. O seu teor era, basicamente, sobre a necessidade do atendimento.
“Diziam que estavam com dor de barriga e dor de cabeça e perguntavam se deviam ir aos hospitais. Ou falavam que tinham febre e perguntavam se poderiam passar para os pais. Depois, isso foi rareando. E a última pergunta que eu respondi foi até interessante, porque alguém falou que passava muito álcool em gel e que sabia que a pele absorvia o tratamento com pomadas e cremes. Aí ela perguntou se o álcool não era absorvido pela pele de tanto que passava e quanto era o máximo que poderia usar. Expliquei que, na pele íntegra, o álcool não é absorvido”, contou.
Segundo o Ministério da Saúde, o coronavírus é transmitido através de gotículas e secreções e pode contaminar qualquer superfície. Por isso, o álcool em gel é uma das medidas de higienização sugeridas pelo órgão. Além deste, o ídolo do basquete tem tomado outros cuidados para se proteger quando sai de casa a trabalho.
No caso dele, a atenção tem que ser redobrada porque, trabalhando todos os dias em cinco clínicas diferentes, Marcel pode ser, ao mesmo tempo, receptor e transmissor do vírus.
“Por isso, uso face shield, gorro, óculos, máscara N65 e avental descartável. Para cada paciente que trabalho, tiro luva, passo álcool em gel nas mãos e coloco uma nova luva. Limpo o aparelho e a maca também. Tenho de fazer tudo isso porque não quero contaminar outra pessoa”, disse.
De acordo com a Prefeitura de Jundiaí, eram 251 casos e 19 óbitos confirmados até o dia 07/05. Buscando minimizar a contaminação no estado de São Paulo, o governador João Doria determinou o uso obrigatório de máscaras. Mas, segundo Marcel, as pessoas já se apresentavam mais conscientes antes da medida. “O interessante é que, a partir da semana passada, eu nunca mais fiz exame num paciente sem máscara. A população está tomando juízo e se prevenindo”, contou.
Retorno às atividades esportivas
Na última segunda-feira (04/05), a Liga Nacional de Basquete anunciou o cancelamento da temporada 2019/2020 do NBB. A decisão, unânime entre os clubes que disputam o campeonato, veio para preservar a saúde de todos os profissionais envolvidos com a competição e agir com responsabilidade diante do impacto financeiro gerado pela crise econômica mundial.
Para Marcel, que também já foi técnico do Pinheiros no NBB, optar pelo cancelamento foi uma decisão sábia.
“Os atletas são exemplos e o NBB, na vanguarda, resolveu cancelar o seu campeonato. Mesmo porque é muito difícil treinar basquete sem contato. Se pudesse, eu estaria jogando até hoje. Se me garantir que o cara que tem que me defender vai ficar a mais de 1,5m de mim, quero jogar outra vez (risos). Além disso, o atleta é exemplo. Se ele pode jogar, os outros também podem sair, ir na balada e beber com os amigos. Então, eu achei muito boa a medida do NBB”, disse.
Diferente da LNB, outras entidades esportivas pelo mundo já têm perspectiva de retorno às atividades. No futebol brasileiro, o elenco do Grêmio já fez a sua reapresentação e o Inter já voltou a treinar. Enquanto isso, a NBA autorizou suas equipes a reabrirem suas instalações e organizar treinos individuais para os jogadores, sob algumas cautelas e restrições. E, na Alemanha, a Bundesliga anunciou o retorno do campeonato para o dia 16/05.
Segundo Marcel, esses retornos são uma temeridade. “Em primeiro lugar, como vai se treinar qualquer atividade sem a supervisão de alguém? Atleta profissional é um tipo expansivo que gosta de fazer amizade. Obviamente, vai existir contato e essa comunidade tem auxiliares, como técnicos, preparadores físicos, roupeiros, funcionários da limpeza e manutenção. Todos eles estarão voltando ao trabalho e têm família. Basta um estar contaminado para toda a rede se contaminar. O que a gente sabe desse vírus é justamente que o contágio se dá por aglomeração. Quando as Olimpíadas foram adiadas, vieram me perguntar o que eu achava e eu fui muito simples: adiar ou morrer. Vocês que sabem o que vão fazer. Hoje, o retorno aumenta o risco de morte”, disse.
O NBB é uma competição organizada pela Liga Nacional de Basquete (LNB), com chancela da Confederação Brasileira de Basketball (CBB) e em parceria com a NBA, e conta com os patrocínios oficiais da Budweiser, Unisal, Nike, Penalty, Plastubos e VivaGol e o apoio da Pátria Amada Brasil – Governo Federal.