Palavra docapitão

As histórias de Solar Cearense e Davi Rossetto se confundem. Ainda um garoto, o armador se transferiu para Fortaleza logo na temporada estreia da equipe no NBB CAIXA e não demorou a se tornar a grande referência do time. Agora, capitão pelo quarto ano seguido, o jogador terá uma importante missão: levar o Carcará a sua primeira vitória em uma série de playoffs.

Décimo colocado da fase de classificação, o Basquete Cearense enfrenta o Pinheiros em uma das séries das oitavas de final desta temporada. O Jogo 1 acontece nesta terça-feira (03/04), no Ginásio Paulo Sarasate, em Fortaleza. A bola sobe às 19 horas e o SporTV transmite ao vivo.

“O Pinheiros tem uma equipe muito talentosa, que provou que sabe jogar os playoffs, e surpreendeu muita gente na temporada passada. Nossa principal preocupação tem que ser a defesa, não podemos deixar os principais jogadores deles se sentirem a vontade senão nossas possibilidades de vitória serão pequenas. Vamos confiantes em fazer uma boa série”, explicou Davi.

Único atleta presente em todas as temporadas do Solar Cearense, Davi virou a “cara” da equipe nos últimos anos (Stephan Eilert/Divulgação)

Eliminado três vezes nas oitavas de final e outra nas quartas, ano este em que ficou no G-4, o time nordestino nunca venceu um confronto de mata-mata no NBB CAIXA. Presente em todas as eliminações – além dele, apenas o técnico Alberto Bial e parte da comissão estão no time desde o começo –, o armador mais do que ninguém quer acabar com este incômodo jejum.

“(Nunca ter vencido nos playoffs) Me incomoda sim. Acho que pelo quanto já crescemos como projeto, pela nossa torcida e pelos resultados dentro de quadra, já merecíamos ter vencido uma série de playoffs e chegado mais longe. A pressão existe, mas sabemos canalizar para que sirva de motivação, nossas ambições são grandes e nos sentimos preparados para esse resultado inédito”, exaltou Davi, que tem 193 partidas disputadas pelo Solar Cearense no NBB CAIXA.

Casa forte e “lua de mel” com a torcida

Na luta para vencer uma série de playoffs pela primeira vez, Davi e o Basquete Cearense terão um importante aliado: o fator casa. Tirando as quatro equipes que ficaram no G-4, o time teve a melhor campanha como mandante, com 11 vitórias nas 14 partidas, junto do Universo/Vitória (8º).

Para melhorar ainda mais, nos três últimos compromissos em Fortaleza, o Carcará conquistou expressivos resultados positivos diante de equipes do G-4 (Mogi das Cruzes/Helbor e Sesi Franca Basquete), além do épico triunfo sobre o Sendi/Bauru Basket, com a jogada histórica de Paulinho Boracini no último segundo.

Energia aqui não faltou! Com essa bola mágica da coruja maluca vencemos a partida contra a equipe de Bauru! @boracini9 carrapeta treinada! Você é monstro!!! 🦉 🦉 🦉🦉🏀🙏🏼🙌🏼👊🏼🦅 Sim, eu sou o retardado rodando a camisa comemorando um gol 🤦🏻‍♂️ #voacarcará

Uma publicação compartilhada por Davi Rossetto (@davirossetto) em 21 de Mar, 2018 às 9:50 PDT

Então, na visão do capitão, os playoffs não poderiam chegar em melhor hora, com o “casamento” entre time e torcida vivendo um de seus melhores momentos. Para Davi, o estilo de jogo proposto pela equipe nesta temporada também ajudou a estreitar a relação com os fãs.

“Estamos em “lua de mel” com nossa torcida. Essas últimas vitórias contra grandes equipes, na raça, com emoção, fizeram eles se identificarem com a equipe como nunca. Esperamos casa cheia e muito incentivo da torcida nos playoffs”, disse o jogador que completará 26 anos em julho.

“Acredito que a nossa maneira de jogar, até pelas características individuais de cada jogador, seja algo bem atrativo para o nosso torcedor. O jogo em transição, o 1×1, a defesa aguerrida, essas coisas fazem com que o torcedor se identifique com o time e nos empurre durante toda a partida. Foi assim que conseguimos uma das melhores campanhas da equipe como mandante e uma das melhores médias de público também”, completou Davi, autor da cesta da vitória diante do Mogi.

Game winner de @davirossetto! Isso é @nbb, meus amigos! 🔥🔥🔥

Uma publicação compartilhada por NBB CAIXA (@nbb) em 24 de Fev, 2018 às 11:23 PST

Alerta ligado

Só que na contramão do que vem apresentando nos jogos no Ginásio Paulo Sarasate, o Solar Cearense não conseguiu bons resultados jogando fora de casa na fase de classificação. E ficou muito longe disso. Com apenas uma vitória nas 14 partidas disputadas, a equipe teve a pior campanha como visitante, ao lado de Botafogo e Liga Sorocabana.

“É claro que cada jogo tem sua peculiaridade, não ganhamos nem perdemos todos pelos mesmos fatores, mas algo muito negativo que vinha acontecendo no início da classificação nos jogos fora de casa, era o fato de começarmos sem nos impor, sem procurar ditar o ritmo da partida e isso resultava em primeiros tempos muito ruins, até dava uma sensação de apatia. Foi algo que conseguimos evoluir durante a competição e é nisso que a gente aposta para esses playoffs”, analisou Davi.

Como ficou com a décima posição, o time nordestino precisará de pelo menos um triunfo fora de casa para vencer a série contra o EC Pinheiros. Os nordestinos farão o Jogo 1 em casa, e depois serão duas partidas seguidas em São Paulo. Um possível Jogo 4 será em Fortaleza e, caso necessário, o Jogo 5 na capital paulista.

“Nas partidas fora de casa acabávamos mudando nossa proposta, nossa maneira de jogar, como se estivéssemos ali para reagir ao que o adversário apresentaria. Algo bem diferente do que fazíamos dentro da nossa casa. A medida que fomos corrigindo isso, passamos a jogar melhor fora de casa e estamos no momento certo para mostrarmos esse equilíbrio que buscamos a competição inteira”, disse o camisa 5.

“Responsa” de capitão

Era um garoto: Davi chegou ao Cearense com apenas 20 anos (João Pires/LNB)

Um dos jogadores mais inteligentes do basquete nacional, Davi não demorou a ganhar a admiração do técnico Alberto Bial e, ainda com 22 anos, recebeu o posto de capitão na temporada 2014/2015. De lá para cá, ele se firmou como líder da equipe dentro e fora das quadras e, de quebra, faturou dois prêmios individuais no NBB CAIXA: Jogador Que Mais Evoluiu (14/15) e  Melhor Armador (15/16).

Nesta temporada, Davi é o atleta que mais fica em quadra pela equipe cearense, com mais de 32 minutos por jogo. As médias de 10,0 pontos e 4,3 assistências por jogo estão abaixo dos três anos anteriores, mas o trabalho de liderança do armador continua sendo fundamental no Carcará.

“Meu papel dentro da equipe nessa temporada vem sendo um pouco diferente das últimas. Os movimentos ofensivos estão mais distribuídos com os outros jogadores, o que torna a equipe mais difícil de ser marcada. Acredito que adquiri uma característica mais defensiva também, de estar sempre incomodando o adversário para buscarmos cestas fáceis. Mas continua sendo minha responsabilidade ditar o ritmo do jogo, ser um líder positivo e fazer do ambiente sempre o melhor possível”, disse o capitão Davi, que recentemente bateu a marca de 700 assistências no NBB CAIXA.

Admiração e respeito: Davi e técnico Alberto Bial possuem relação intensa e viveram juntos toda a história da equipe (Stephan Eilert/Divulgação)

Chegou a hora?

A caminhada do Solar Cearense já teve algumas eliminações “doídas”. Logo na temporada de estreia no NBB CAIXA (12/13), a equipe disputou o Jogo 5 em casa nas oitavas de final contra o Paulistano e, mesmo com mais de dez mil pessoas no Ginásio Paulo Sarasate, acabou eliminada de maneira dramática.

Três anos depois, um novo “pesadelo” no Sarasate. Com dois pontos de frente e poucos segundos no relógio, o time viu o Mogi virar o Jogo 3 das quartas de final na última bola e abrir 2 a 1 de frente na série (depois os mogianos venceram em casa e fecharam a série em 3 a 1). Caso vencesse aquele jogo, que também contou com grande público, o Cearense abriria 2 a 1 na série e, ao menos, garantiria a realização do Jogo 5, que seria em Fortaleza.

Indescritíveis as sensações que tive ontem. Primeira e mais importante, a EMOÇÃO de ver o ginásio completamente lotado, pessoas do lado de fora, todas cativadas por um movimento que começou em 2012 e só quem esteve desde o início é capaz de saber o quanto foi difícil de chegarmos em uma situação dessa. Vocês nos impulsionaram, nos contagiaram, vocês JOGARAM JUNTO com a gente! E após o jogo, a FRUSTRAÇÃO, de termos desapontado tantos fãs, de termos perdido um jogo que estava em nossas mãos, de termos deixado escapar a chance de fechar com chave de ouro um dia histórico para o Basquete Cearense. Só o esporte para nos proporcionar tamanhas emoções, emoções tão distintas, e ao mesmo passo, nos permitir canalizar ambas em prol do nosso grande objetivo. Levarei cada um de vocês que nos tem passado carinho e apoio conosco para a viagem, não desistimos e nem vamos desistir. OBRIGADO A TODOS!

Uma publicação compartilhada por Davi Rossetto (@davirossetto) em 22 de Abr, 2016 às 8:32 PDT

Na temporada passada, a equipe teve mais uma eliminação dramática, desta vez fora de casa. No Jogo 5 das oitavas, novamente diante do Paulistano, a equipe teve a bola nas mãos para tentar virar o jogo nos segundos finais, mas acabou derrotada por um ponto de diferença e mais uma vez eliminada pelo time paulista. A outra queda nos playoffs foi para o Bauru, na temporada 13/14, por 3 a 0.

“Como naquela história onde não é a centésima martelada que destrói a rocha, mas sim a combinação de todas as que vieram antes, assim eu sinto hoje o Solar Cearense. Tudo o que passamos até aqui, os altos e baixos, as lesões, e até as temporadas passadas de eliminações doídas, nos moldaram, nos ensinaram, permitiu que nos uníssemos e nos fortalecêssemos. Então pra mim está mais do que na hora de quebrar essa rocha, avançar esse playoff e traçar voos ainda mais altos”, concluiu Davi.

Se depender da vontade do capitão, o Solar Cearense está mais “pronto do que nunca” para encerrar o jejum nos playoffs.

A série

EC Pinheiros e Solar Cearense se enfrentarão pela primeira vez nos playoffs do NBB CAIXA. Por ter feito melhor campanha na fase de classificação – sétimo contra décimo -, o time paulista será mandante nos Jogos 2, 3 e numa possível quinta e decisiva partida.

– Pinheiros  (7º) x Solar Cearense (10º)
vencedor pega o Paulistano

Jogo 1 – 03/04 (terça), às 19 horas, no Ginásio Paulo Sarasate, em Fortaleza (ao vivo no SporTV)
Jogo 2 – 06/04 (sexta), às 19 horas, no Ginásio Henrique Villaboim, em São Paulo (ao vivo no Facebook)
Jogo 3 – 08/04 (domingo), às 19h30, no Ginásio Henrique Villaboim, em São Paulo (ao vivo no SporTV)
Jogo 4* – 11/04 (quarta), horário a definir, no Ginásio Paulo Sarasate, em Fortaleza
Jogo 5* – data, horário, no Ginásio Henrique Villaboim, em São Paulo

*se necessário