HOJE
O que movea tradição?
Por Douglas Carraretto
Uma enorme tradição revertida em profissionalismo, planejamento e conquistas: veja como o Sesi Franca chega para a temporada 2020/2021
Calçados, café, leite, cana de açúcar… e basquete. Basquete, basquete e mais basquete. Essa é Franca (SP). A cidade do interior paulista com mais de 300 mil habitantes é potência no ramo industrial, mas costuma se destacar mesmo como fábrica de novos apaixonados pela bola laranja.
Lá o clima é diferente, e todo mundo respira basquete. Parece até que o francano já nasce sabendo tudo da modalidade, seja de regras ou jogadas. É um povo que ama a bola laranja como ninguém. Ela está até na bandeira da cidade. Qual outro lugar tem isso?
Nas ruas, há centenas de tabelas espalhadas, que variam desde modelos sofisticados até as domésticas, sem falar nas lixeiras em forma de tabela com aro. Quando alguém joga um papel, não está contribuindo apenas para a limpeza da cidade, mas também marca seu ponto, sua cesta. Você, de fato, nunca viu nada igual…
A Capital do Basquete
Por toda essa paixão, Franca é conhecida como a “Capital do Basquete”. São mais de 60 anos ininterruptos de basquete profissional em Franca. Nesse período, figuras lendárias no esporte brasileiro saíram de lá e fizeram história no país, tais como Pedroca, Hélio Rubens, Guerrinha, Paulão Berger, Helinho Garcia e tantos outros. Pedroca, por sua vez, é Pedro Morilla Fuentes, lenda que dá nome ao Ginásio Pedrocão.
Fora eles, outros que não necessariamente nasceram em Franca, mas fizeram história por lá, são Fernando Fausto Gianecchini, Fernando Minucci, Edu Mineiro, Chuí, Janjão, Demétrius Ferracciú, Valtinho, Rogério Klafke, Márcio Dornelles e outros. Está faltando gente nessa lista, sem dúvidas, mas é difícil citar tanta lenda.
Toda essa tradição da cidade se deve também aos títulos conquistados. E não foram poucos. Franca é o maior campeão nacional da história, com 11 troféus. Além disso, são 12 Estaduais, seis Sul-Americanos, sendo o último conquistado em 2018, quatro Pan-Americanos, uma Supercopa de Basquete (2008) e uma Copa Super 8 do NBB (2019).
Mas além de todos os corações que levaram Franca a esse patamar, há também muito profissionalismo na gestão e planejamento do time. Como diz o famoso livro do FC Barcelona, “A bola não entra por acaso”.
A gestão
O Franca Basquete conta com profissionais sérios e gabaritados atuando duro fora das quatro linhas. Na parte da gestão, um deles é Carlos Donzelli, Presidente do Conselho do Franca Basquete e Diretor Executivo da Holding Magazine Luiza, patrocinadora máster do time.
“Temos um sistema de governança que possui: Conselho Consultivo, Conselho Deliberativo, Comitê Gestor e uma diretoria executiva. A diretriz de longo prazo é estabelecida pelo Conselho que se traduz em um planejamento elaborado pelo comitê gestor e em um “mandato” a ser implementado pela diretoria executiva”, contou Donzelli.
Atualmente, o Franca Basquete conta com o SESI como principal parceiro, o Magazine Luiza como patrocinador máster e a Unimed como patrocinadora. A renda do clube é gerada através dos patrocínios, publicidade, do plano Sócio Torcedor e, é claro, da bilheteria dos jogos no Ginásio Pedrocão.
“A partir do planejamento de longo prazo é estabelecido um orçamento que é revisitado anualmente e ajustado conforme as necessidades de cada temporada”, completou o executivo, que também atua como Vice-presidente Financeiro da Liga Nacional de Basquete.
Quem vê o Franca nesse nível de profissionalismo no quesito gestão pode pensar que tudo sempre foi assim. Se enganam, pois há pouco mais de cinco anos o clube passou por uma grande crise e quase fechou as portas.
Foi aí que veio uma das viradas mais importantes da história do basquete francano…
A virada que virou livro
O time da Capital do Basquete ficou cerca de 11 anos sem títulos. Onze. Um jejum incômodo para uma cidade que sempre foi mais do que acostumada com as vitórias e os troféus. E esse período não foi fácil…
Fora das quatro linhas, uma forte crise financeira quase colocou fim a uma história de mais de 60 anos. A partir daí, foi realizada uma reformulação completa na parte organizacional do clube que resultou a “nova” potência que o time francano é hoje. Essa história virou até livro.
“Gestão Também Ganha Jogo” foi a obra escrita por Carlos Donzelli e Marcelo Carraro, este Diretor Superintendente da ACIF (Associação do Comércio e Indústria de Franca) e membro do Conselho Deliberativo do Franca Basquete. São dois nomes importantíssimos na reestruturação da gestão do basquete francano.
Na época do lançamento do livro, Donzelli explicou: “Essa virada começou com mudança no estatuto do clube, há pouco mais de quatro anos. Toda a governança foi redesenhada e pessoas gabaritadas foram levadas para o Conselho. Depois, a gestão esportiva foi mudada, e todos passaram tratar o clube não só como uma paixão, mas como um negócio, trazendo conceitos de gestão de produtividade, tesouraria e processos”.
As mudanças trouxeram ao Franca, primeiro, um parceiro de peso: o SESI (Serviço Social da Indústria). O trabalho de gestão do clube ao lado de um parceiro como o SESI, além do fiel Magazine Luiza, e outras empresas apoiadoras, foi responsável pela montagem de elencos de qualidade que mudaram o patamar do time no cenário nacional.
Em 2018, os primeiros títulos da nova era vieram, e o melhor: em dose dupla. O Franca foi campeão do Paulista e da Liga Sul-Americana. Finalmente, o jejum de 11 anos sem levantar um troféu foi encerrado! O time ainda se tornou o segundo maior campeão sul-americano na história. No ano seguinte, 2019, mais um Paulista foi conquistado.
A gestão do Sesi Franca também demonstrou algo valioso. Algumas das decisões sobre contratações contaram com as opiniões de atletas do grupo, o que reforça o conceito de democracia e trabalho em conjunto do clube. Com isso, o time teve todo seu árduo trabalho coroado com o título Estadual.
Um elenco (bem) novo
O momento atípico de pandemia fez a gestão do Sesi Franca Basquete apelar para outra estratégia. Ao invés de um elenco estrelado, como nos últimos anos, o time vai explorar sua tradição reveladora e dar oportunidade aos garotos da base.
O time da temporada 2020/2021 conta apenas com Elinho Corazza, Lucas Dias e Guilherme Hubner de atletas adultos remanescentes da última temporada. Quatro titulares importantes deixaram o elenco (Parodi, Jackson, Jimmy e Hettsheimeir deixaram o time).
Agora, os jovens Gui Abreu, Márcio Henrique, Adyel Borges, Edu Marília, Nathan Mariano e companhia devem ganhar mais espaço na rotação do Sesi Franca Basquete, que acertou somente duas contratações para a temporada: os versáteis André Góes (Ala do Ano e candidato a MVP do NBB 19/20) e Danilo Fuzaro, ambos vindo do Mogi Basquete.
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“A tradição sempre foi muito importante, mas pela situação inusitada de pandemia que vivemos, e com uma atitude responsável, vamos lançar ainda mais esses jovens valores no mercado e acima de tudo a gente tem essa condição por conta da unidade de planejamento envolvendo todas as categorias e obviamente fazendo com que os atletas desenvolvam seu baquete e tenham uma oportunidade impar que não é sempre que ocorre a nível profissional”, disse o técnico Helinho Garcia.
Homens de confiança do técnico Helinho Garcia, como o armador Elinho Corazza, Lucas Dias e o próprio André Góes, que fez parte da temporada história do Franca com o título Paulista e Sul-Americano em 2018, serão os grandes protagonistas de uma nova (porém antiga) filosofia da equipe francana.
“A característica sempre falo que é jogar com a cara de Franca, com disciplina, discernimento, sendo agressivo e desprendidos, com defesa forte e aguerrida, sempre zelando por isso. Buscamos o crescimento a cada dia para que todos possam experimentar essa evolução ao longo de suas carreiras e os momentos que vão viver aqui em Franca”, completou o técnico Helinho, ídolo da cidade como jogador.
As referências do grupo
O único titular da última temporada do Sesi Franca Basquete a permanecer no elenco foi Lucas Dias. Pode se dizer que agora, mais do que nunca, o posto de franchaise player (jogador da franquia), ou seja, o destaque do time, é dele.
Na última temporada, o ala/pivô de 2,08m de altura e 23 anos teve médias de 15,5 pontos (55.8% nas bolas de 2 pontos), 5,2 rebotes e 16,2 de eficiência. Mesmo com o elenco estrelado, ele já tinha grande destaque. Agora, então, podemos esperar um Lucas ainda mais ativo.
Mas, quando perguntado sobre um ganho de responsabilidade, ele preferiu aderir a uma postura coletiva e amenizar qualquer tipo de “pressão” em cima dele.
“Acho que não (sobre o ganho de responsabilidade). Todo ano venho evoluindo, o grupo em si ainda vai crescer muito e eu jogo com eles. Se o grupo crescer eu automaticamente vou crescer também. O grupo ainda vai evoluir bastante e eu também tenho muito a evoluir ao longo da temporada”, comentou Lucas, que completou:
“É um grupo bastante jovem, sabemos que perdemos quatro titulares, mas chegaram André, que jogou muito bem a última temporada, e o Fuzaro. Sabe que a gente outras equipes favoritas, mas, como eu falei, temos muito que evoluir na temporada ainda”, finalizou Lucas Dias.
Não há dúvidas de que Lucas é uma das referências por ser um atleta vitorioso, assim como Elinho Corazza, com quem atuou no Paulistano antes de ir para o Sesi Franca. Juntos, os dois conquistaram seis títulos nos últimos três anos: dois Paulistas, uma Sul-Americana e uma Copa Super 8 pelo Franca e um Paulista e um NBB pelo Paulistano, que também contava com Guilherme Hubner como pivô – ele foi MVP das Finais do título do NBB 17/18.
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Já o versátil ala/pivô/armador André Góes, que liderou uma temporada histórica do Mogi no último NBB, também fez parte da campanha do troféu Sul-Americano e Estadual do Franca em 2018, inclusive atuação clutch no título internacional.
O jogador retorna ao Franca com um status diferente: Ala do Ano e candidato a MVP do NBB 2019/2020. Anteriormente, ele vinha do banco e contribuía como um jogador coringa, capaz de atuar em todas as posições. Agora, além de tudo isso, Góes terá que ser uma referência, como foi no Mogi, e guiar o jovem elenco francano na nova temporada.
O NBB é uma competição organizada pela Liga Nacional de Basquete (LNB), com chancela da Confederação Brasileira de Basketball (CBB) e em parceria com a NBA e o CBC, e conta com os patrocínios oficiais da Budweiser, Unisal, Nike, Penalty, Plastubos, EY, VivaGol, IMG Arena e Genius Sports.
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